Há 50 anos, o estudante secundarista
Edson Luís de Lima Souto, então com 17 anos, foi morto pela Polícia Militar do
Rio de Janeiro. Edson era um dos 300 estudantes que jantavam no restaurante
estudantil do Calabouço no final da tarde de 28 de março de 1968 quando o local
foi invadido por policiais, em meio à tensão do quarto ano da Ditadura Militar
no Brasil. Momentos depois, seu nome figurou no boletim de ocorrência n.
917, da 3ª DP e desse modo, entrou para a história.
Há menos de 24 horas, Marielle Franco, uma combativa vereadora e militante por direitos humanos e igualdade
social, parte muito precocemente e deixa um legado, além de um futuro de lutas
a favor do povo e de uma sociedade justa e igualitária.
Marielle era negra, lésbica, oriunda da favela, era a
voz da negritude frente às ações policiais dentro das favelas e de extermínio
da juventude. Nascida na Maré, foi
eleita com 46.502 votos. Era formada em Sociologia com mestrado em
Administração Pública na Universidade Federal Fluminense. Sua tese teve
como tema “UPP: a redução da favela a três letras”. A carreira da vereadora
sempre foi marcada pela defesa dos direitos humanos. Nos últimos dias, Marielle
vinha denunciando a ação da Polícia Militar em Acari, na zona Norte do Rio.
A cronologia dos fatos traz a dúvida acerca dos motivos que
levaram à sua brutal morte. No dia 28 de fevereiro, Marielle se torna relatora
da comissão de acompanhamento da Intervenção Federal no Estado do Rio de
Janeiro. No dia 11 de março, faz a denúncia sobre a truculência da Polícia
Militar em Acari. Por fim, ontem, 14 de março, após participar do evento “Jovens
Negras movendo estruturas”, Marielle levou quatro tiros na cabeça, balas estas
que colocaram fim à sua vida, mas não à luta que ela engendrou no Estado em que
cumpria seu mandato como vereadora. “Quantos mais vão precisar morrer para que
essa guerra acabe?”, escreveu ela um dia antes de ter sua vida ceifada.
Relembrar a morte de Edson Luís é retomar uma
realidade latente em nosso país, um dos mais violentos do mundo: a repressão e
a violência policial que servem de braço armado a um Estado assassino, racista,
machista, homofóbico e que criminaliza os que lutam. O processo de
“democratização” do país na década de 1980 trouxe em alguns sentidos certas
“liberdades individuais” como o direito ao voto e à livre organização política
em sindicatos e partidos, mas não transformou estruturalmente as bases
políticas, sociais e econômicas no Brasil, que em pesquisas recentes é o país
em que mais se mata no mundo.
Não há democracia num país em que basta ser preto, pobre, mulher,
homossexual ou trans para se estar na mira de uma arma de fogo. Quantos Edsons,
Amarildos, Douglas, Caíques, Cíceras, Cláudias, Eloás, Elisângelas, foram
mortos injustamente pelo Estado sem que sequer ficássemos sabendo? Quantos
desses crimes foram investigados tendo os responsáveis punidos? É preciso dar
um basta a essa “democracia” que não serve a nós, estudantes, frutos do “Brasil
democrático”. Quando exigimos justiça e a apuração efetiva dos fatos, exigimos
antes de tudo o nosso direito à vida! Não temos boas condições de trabalho, não
temos bons salários, nem saúde, educação e transporte de qualidade, muito menos
direito ao nosso próprio corpo. Não podemos, ainda, gozar plenamente da beleza
que é viver num mundo onde sejamos “socialmente iguais, humanamente diferentes
e totalmente livres”.
Por isso, nesse
aniversário de morte de Edson Luís e com a perda recente da vereadora Marielle
Franco, o Centro Acadêmico de Direito Edson Luís se insurge para fazermos reviver
seus espíritos de luta contra as injustiças de um mundo que é vivido e
desfrutado de fato por muito poucos, às custas da exploração e miséria de
muitos outros. Nesse intuito, declaramos instaurada a Comissão Permanente de
Recuperação Histórica em Memória de Edson Luís, para honrar este nome que
levamos todos os dias dentro do movimento estudantil, símbolo de resistência e
luta por direitos.
A todos aqueles companheiros que nos deixaram, nós gritaremos:
PRESENTE!
E se nos tiram tudo, até a vida, não temos que temer o que nos
espera, pois não temos nada a perder, a não ser os nossos grilhões!
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